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segunda-feira, junho 26, 2006

 

Carta aberta e quase íntima à Ministra da Educação...

Texto recebido no meu e-mail:

Minha Cara Maria de Lurdes Reis Rodrigues

Nos tempos que correm, você é, digamos, a face visível do meu patrão, oMinistério da Educação. Não me sinto, porém, "seu" empregado; sinto-me seu igual. Sou também, como você, professor (há mais de duas décadas), tenho, devida, alguns anos a mais do que você (para infelicidade minha), escrevo epublico poesia (e sempre gostei de partilhar poesia com os meus alunos, apesar de não ser professor de Português ou de Língua Portuguesa) e, talvezdiferentemente de você, quando entrei para a Faculdade, não planeava serprofessor, mas jurista. E, antes de ter optado por ser professor, fiz outras coisas na vida: fui tradutor, fui assessor jurídico, fui advogado, fuijornalista, fui gestor comercial. E tenho três filhos, dois dos quais estãoainda no ensino básico e em escolas "públicas", quero dizer, escolas "do Estado". Tenho pensado, escrito e publicado "alguma coisa" sobre educação,currículo que, infelizmente, não lhe reconheço.Não sei, por isso, francamente, entre nós, quem terá mais autoridade para falar de educação e de ensino. Claro: você é a Ministra da Educação: temautoridade política. Mas não era desta "autoridade" (circunstancial) que eufalava. Referia-me a outra: aquela que decorre da reflexão, da experiência e do interesse (não profissional, corporativo ou político, mas"civilizacional").Tenho, diante dos meus olhos, um Despacho assinado por si, datado de 7 deJunho (ou seja, de anteontem). Está para publicação no Diário da República. Estabelece (transcrevo-o) " regras e princípios orientadores a observar, emcada ano lectivo, na elaboração do horário semanal de trabalho do pessoaldocente" (...), "bem como na distribuição do serviço docente correspondente". Define ainda " orientações a observar na programação eexecução das actividades educativas que se mostrem necessárias à plenaocupação dos alunos dos ensinos básico e secundário durante o período de permanência no estabelecimento escolar".Não quero discutir consigo o conteúdo do Despacho. É, simplesmente, mais umDespacho, uma fórmula legislativa que os episódicos governantes deste pobrepaís gostam muito de usar para dar a entender (coitados!) que sabem e que podem. Não leve a mal que a desiluda: de Despachos Ministeriais (bem ou malintencionados) está o inferno (e Portugal) cheio. Em mais de duas décadas,não sei de nenhum Despacho que tenha, efectivamente, contribuído para mudar a qualidade das aprendizagens dos nossos alunos (quero dizer: dos nossosfilhos).Você sabe tão bem quanto eu: precisamos de professores qualificados,profissionalmente autónomos e responsáveis e motivados. Mas não acredite que os crie por Despacho. E com Despachos como este, e com todas as declaraçõesque tem vindo a fazer sobre os professores (e não discuto sequer se comrazão ou sem ela), só tem conseguido, liminarmente, uma coisa: humilhar e desmotivar os professores em geral, os competentes e todos os outros.Escolheu, imprudentemente, o caminho errado. Porque você ainda não percebeuque não basta ter autoridade política para "mandar" e para "mudar". É preciso suscitar a paixão, o entusiasmo, a clarividência, o pundonor. E,nesta arte, você tem-se revelado, lamento muito escrevê-lo, completamenteincompetente. Conseguiu apenas fazer-se odiar (pelas melhores e pelas piores razões). Não vejo, sinceramente, como o ódio que, actualmente, osprofessores lhe devotam poderá contribuir para a felicidade dos meus filhos.Lamento muito (repito) escrever isto, porque até comecei por simpatizar consigo. Continuo a considerá-la uma pessoa bem intencionada. Mas,porventura mal aconselhada, errou o método e o alvo. E agora já é muitotarde para voltar atrás e reganhar a confiança daqueles que deveriam ser os seus principais aliados.Com toda a franqueza e com toda a frontalidade, entre colegas, permita-meque lhe diga: acho que deveria demitir-se e dar o lugar a outro. Talvez aoAntónio Nóvoa, agora o seu Reitor, se ele estivesse disponível para colar os cacos que deixou (infelizmente, não acredito que quisesse). Pena que, emdevido tempo, não se tivesse aconselhado com ele...
Posted by ademar.santos at junho 9, 2006 10:45 PM

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