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quinta-feira, junho 15, 2006

 

Exmo Sr Presidente da República Portuguesa

texto enviado para o meu e-mail

Está V. Exª ciente de que a educação dos nossos jovens é de importância fundamental para o progresso de Portugal. Por isso ousamos dirigir-nos a si, neste momento, para lhe darmos conta de algumas situações que, em nosso entender, seria útil merecerem da parte de Vª Exª alguma atenção.Assiste-se neste momento a uma estratégia política governativa que, para facilitar a implementação de medidas concretas no domínio do sistema educativo ( e não interessa para já ver se elas são correctas ou não, deixaremos isso para outra ocasião) recorre sistematicamente a um processo público, mais ou menos insidioso, de denegrir aos olhos da opinião pública, a actuação concreta dos professores concretos das nossas escolas. São frases proferidas pela titular da pasta da educação e divulgadas pela comunicação social, algumas como as que a seguir transcrevemos: -"os professores não estão preocupados com o insucesso dos seus alunos, fazem as reuniões apenas porque elas estão marcadas no calendário"; -"desde há muitos anos que as escolas secundárias estão a dormir junto à lareira"; e muitas outras poderiam ser transcritas!·Ao mesmo tempo, procura fazer-se crer à opinião pública que o trabalho docente é tão fácil que qualquer encarregado de educação está em condições de o avaliar; procura fazer-se crer à opinião pública que qualquer professor está habilitado tanto para estar à frente duma turma de 9º ano, como do 1º ano duma escola do 1º ciclo, ou seja, faz-se crer que o trabalho docente é simples, executável, afinal, sem grande exigência de conhecimentos teóricos ao nível da didáctica e da pedagogia específica dos diferentes grupos etários. Toda este posicionamento político, populista, seguramente contribui para facilitar a imposição aos docentes de políticas educativas com as quais eles discordam, isolando-os dos outros sectores da população.... Mas será que tal postura política, bastante "produtiva" no curto prazo não terá resultados bem deletérios para a educação dos portugueses no médio-longo prazo? Será possível conseguir a disciplina e o respeito dentro duma sala de aula, quando na praça pública e todos os dias os professores são denegridos? Será possível um bom ambiente relacional numa sala de aula, quando os alunos diariamente ouvem as mais variadas críticas aos seus professores? Será possível a um professor na sua sala de aula ter um grau de exigência compatível com o que se espera da aprendizagem escolar, quando os alunos ouvem que são os seus próprios pais que irão avaliar os professores que os estão a avaliar a eles? O ambiente sociológico gerado pela Srª Ministra da Educação, permite já que um determinado economista se atreva a publicar num jornal de grande expansão, o artigo de opinião que me atrevo a juntar a esta carta, pois ele é bem ilustrativo do clima sociológico relativamente aos professores que foi gerado por este governo e que tem consequências diárias no respeito, consideração e dever de obediência que os alunos cada vez mostram menos nas salas de aula. Sr Presidente, os professores não têm a capacidade mediática dos polícias, ou a capacidade mobilizadora dos juízes....Mas têm um papel fundamental na construção do futuro deste país. Sr Presidente, esse papel fundamental está a ser inviabilizado pela postura continuada de caluniamento público da função docente. Esta situação é, Sr Presidente, de extraordinária gravidade para o nosso País. Vossa Exª saberá certamente melhor do que ninguém como melhor agir face a esta situação e esperamos sinceramente que o faça e o quanto antes melhor. Com os nossos melhores cumprimentos,

Em anexo o artigo de opinião antes referido:
"AS NOSSAS QUERIDAS PROFESSORAS
Não posso deixar de vir aqui publicamente expressar a minha profunda indignação pelo ataque que está a ser infligido às nossas queridas professoras, no sentido de as obrigar a cumprir o horário de trabalho. Trata-se de enorme violência para as próprias, para os alunos, suas famílias e população em geral. Sim, porque não são só as professoras que sofrem com esta despudorada medida, que lhes coarcta o legítimo direito a dar umas voltinhas pelo shopping para espairecer de terem de aturar a cambada de energúmenos que se sentam nas carteiras das salas de aula e lhes limitam fortemente a possibilidade de desenvolver acções de formação permanente mediante o visionamento na televisão de vários programas instrutivos e outros que espelham bem o sentir da sociedade em que nos inserimos, como é o caso das telenovelas e dos concursos onde os docentes iam actualizando os seus conhecimentos. Aos alunos a medida também não agrada, já que o grau de irritação dos professores tende a aumentar exponencialmente, diminuindo o nível de tolerância às graçolas e aumentando a repressão que sobre eles se abate. A população em geral tem também vindo a sofrer as consequências, já que não há família em Portugal que não tenha no seu seio uma prima ou uma tia pertencente à prestimosa classe docente que lhes seringa constantemente os ouvidos com a injustiça que sobre eles recaiu. Toda a gente sabe que a grande motivação para passar uma vida a aturar miúdos malcriados era a possibilidade de ter umas férias decentes e de não gastar mais do que meio dia nas aulas ficando com o resto do tempo por conta. Se querem agora obrigar os desgraçados a picar o ponto de sol a sol lá se vai o interesse da função. Uma das grandes preocupações das professoras em relação a este novo regime que as obriga a ficarem na escola para além das aulas é não saberem muito bem como é que poderão ocupar aquelas horas, já que, como é óbvio, ninguém está interessado em usá-las a trabalhar, quanto mais não seja por pirraça e para chatear o ministério. Para minorar a sua dor, posso dar aqui algumas sugestões para o melhor uso do tempo disponível. A actividade mais apropriada é a de curtirem com outros professores do sexo oposto, que também andam por ali sem saber o que fazer. As escolas são em geral pródigas em recantos escuros e salas vazias que propiciam o desenvolvimento da prática. O único óbice resulta do reduzido número de homens, pelo que a coisa só pode ser feita em regime rotativo ou fica reservada só para as mais dotadas, com exclusão dos camafeus e das que esgotaram o prazo de validade. Uma outra actividade a que se podem dedicar é ao jogo da lerpa. Para além de ser de fácil aprendizagem, propícia um grau de excitação próximo da sugestão anterior com a vantagem de o sexo dos jogadores ser irrelevante. Para os que não são capazes de uma coisa nem de outra posso alvitrar umas sessões de espiritismo com uma roda de professoras efectivas à volta de uma mesa pé-de-galo, a estabelecerem comunicação com almas penadas vindas do além.
Manuel Ribeiro, Economista Notícias Magazine (JN, edição impressa de domingo, 23 de Abril de 2006)"

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