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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

 

Lembrando um episódio

No blog Quinto Poder, com toda a justiça, dedicou-se um excelente texto, intitulado “ Despedida e memória” ao saudoso Cerqueira da Rocha, recentemente falecido, deixando grande tristeza aos seus amigos.
E o autor daquele blog quis, e bem, recordar alguns episódios relacionados com a actividade daquele na vida política, em que sempre esteve em oposição ao regime ditatorial de Salazar.
Veio naturalmente à minha memória um episódio passado comigo numa mesa de voto instalada na escola do Bom Sucesso, também nas eleições de 1969.
Fui destacado para ali como delegado da oposição democrática a fim de fiscalizar (?) a forma como decorriam as eleições naquele lugar.
Na verdade, os boletins de voto distinguiam-se à distância (a cor não era bem igual e a espessura do papel era diferente!) e, por isso, eu apercebia-me logo de quem votava connosco ou não.
A mesa era presidida por um cidadão de Quiaios, já falecido, e o secretário era até um seu familiar, ambos reconhecidos adeptos da situação.
Ora, quando o presidente reconhecia que um eleitor se chegava à mesa com um voto, na situação fazia com ele uma conversa amistosa. Mas, quando via o contrário, a sua conduta era diferente, lembrando-me do que se passou com um carteiro, salvo erro, que levava na mão um voto da oposição o presidente, com ar muito sério falava-lhe da sua posição de funcionário público, estranhando, embora por meias palavras, a natureza do seu voto.
O mesmo sucedeu, lembro-me ainda, com uma senhora professora. E isso foi acontecendo durante toda a votação.
Verifiquei que, em relação aos votantes na oposição (que o presidente conhecia, pois ele era um homem que conhecia quase toda a população daquela freguesia), num papel escondido atrás da urna ele ia registando os nomes dos que votavam contra a situação.
E o que eu verifiquei também outros que, apinhavam a sala, já tinham notado, vindo, em voz baixa, avisar-me.
Terminada a votação, com a vitória, claro, das listas da situação, pedi a palavra e denunciei o facto que verificara dizendo que ou o presidente rasgava em mil pedaços aquele papel ou o facto teria que ficar em acta, o que representava para ele, presidente, um procedimento da maior indignidade.
E, então, estalou na sala uma grande salva de palmas.
Apanhado de surpresa, o homem ficou pálido, revelou nervosismo nas mãos, conferenciou com o secretário da mesa.
Mas acabou, depois de dar uma desculpa estúpida, por rasgar aquele papel e deitar os bocados por uma janela fora.
Nova salva de palmas e até se ouviram, nesse momento, vivas à Liberdade.
Eram assim as eleições nesse tempo da ditadura, em que tudo valia, malandrices de toda a ordem, para que a situação sempre ganhasse!
E só assim um regime daqueles se manteve durante quase 50 anos...
É bom lembrar esses tempos e mostrar a quem não os viveu como as coisas se passavam!

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