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segunda-feira, abril 02, 2007

 

Quadro da vida

Foi já há alguns anos, mas não mais esqueci o que vi aquela mãe sofrer por causa do seu único filho que, na altura, era um jogador.
Vivendo de uma pequena pensão de viuvez ela tinha que suportar as dívidas de jogo, pois os credores batiam-lhe à porta todos os dias e ameaçavam o seu rapaz das maiores atrocidades.
E ela foi vendendo o que de mais valor tinha em casa, deixou de comprar roupa para si, alimentava-se mal, sacrificou-se sem limites para tentar salvar o filho.
Chegou a ter esperança de que ele se modificaria e contente ficou quando o viu ficar mais em casa mesmo à noite.
Durante algum tempo, sentiu-se feliz, ou, pelo menos, satisfeita com a nova conduta do filho.
Mas, pouco a pouco, foi-lhe notando um procedimento estranho, fechando-se horas seguidas no quarto, tornando-se irascível, agressivo.
E desse quarto saia um cheiro esquisito que ela conhecia porque já o sentira quando passava junto de grupos de drogados.
Um dia, viu mesmo o filho a fumar e mesmo até, mais tarde a injectar-se!
A tristeza daquela mãe voltou e daí por diante foi um sofrimento ainda maior, constante.
Teve várias vezes que ir procurá-lo alta noite, trazendo-o amparado para casa.
As exigências para a compra da droga foram aumentando cada vez mais.
Mas em casa já nada havia para vender e nos dias em que ela recebia a pensão, o próprio filho chegou a agredi-la até obter o dinheiro.
Outras vezes, ela, quando já não tinha dinheiro algum, pedia às amigas, embora com muita vergonha, nunca dizendo que se destinava ao vício do filho.
Desesperada, vendo que aquela situação cada vez mais se agravava, aquela mãe chegou a desejar a morte. Mas quem trataria depois daquele infeliz filho?!
Afinal, foi ele que, um dia, apareceu morto na rua.
E ela, embora nunca deixasse de o amar muito, não conseguiu chorar esse seu único filho por quem chorara já muito.
Pobre mulher! Viu-se como que libertada... embora penosamente libertada!

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