Lugar para Todos

Ficámos sentados lado a lado, em determinada cerimónia.
Perguntei-lhe naturalmente pela Mulher e logo vi lágrimas nos seus olhos.
Ele é já octogenário e ela quase.
Casal sempre unido, sem filhos e daí talvez a sua maior ligação.
Viveram sempre um para o outro e sempre tiveram um comportamento social irrepreensível, merecendo o respeito e a consideração de todos os que com eles contactavam.
Ela estava agora muito doente e ele era o seu “ enfermeiro” de todas as horas, mais do que isso era, digamos, um “ empregado doméstico”, fazendo coisas, como me disse, que nunca julgou vir a fazer como lavar a louça, aquecer a comida que vinha de um restaurante, limpar o pó aos livros e até aos móveis, fazer a cama quando era preciso, dar os remédios a tempo à sua doente, aconchegar-lhe os lençóis, ter de fazer as compras no supermercado.
Tinham, é certo, uma empregada mas por poucas horas.
Apesar dele já ter certa dificuldade no andar, vai cumprindo o que é preciso para que nada falte à sua companheira de muitos anos, que tanto amou e ama.
Só não poderá dar-lhe a saúde!
Mas, mesmo já inválida, ele estima-a muito, cobre-a de mimos, não esquecendo nunca o muito que lhe ficou a dever antes daquela terrível doença.
Aquele homem sofre muito e até a natural impaciência e mesmo revolta da mulher, ele finge que não percebe.
Dá um grande exemplo do que é viver em casal, em que há períodos bons e outros maus.
Será um fim de vida triste, mas ao mesmo tempo belo pelo que existe ainda de amor e compreensão.