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segunda-feira, novembro 10, 2008

 

A avaliação de que a escola precisa mesmo

A manifestação foi ainda maior do que a anterior, que já tinha sido gigantesca.A pergunta, inteiramente legítima, à luz das declarações da ministranos telejornais, é muito simples: quantos mais terão que ser para quea senhora oiça? Ou ouça, que dos dois modos se pode dizer e escrever.Cheguei a casa emocionado e comovidoAquele mar de professores está obviamente mais do que farto. Suspeitoque o estão por todas as pequenas razões de um quotidiano frustrante,e que por isso se podem resumir numa curta frase: ser professor assim,não dá. Quando mais de dois terços de uma classe sai à rua, é porque,apesar do desencanto, ainda transporta dentro de si a energia dadignidade. Não é preciso ser-se professor, psicólogo ou ministro parao entender. Mas existe uma professora que é ministra e que nadaentende de gente, que não percebe. Continua a não perceber.Em casa, a comoção transformou-se em espanto quando ouvi Maria deLurdes RodriguesConsigo compreender que, intimamente, ela esteja convicta da justezado sistema de avaliação. Consigo, porque quem lida com gente tem aobrigação de saber ouvir nas palavras do outro, o que na realidade omotiva. Mas é precisamente aí que Maria de Lurdes Rodrigues é um casoperdido. Ela tem da escola, da avaliação e do próprio conflito umavisão intrinsecamente administrativa. Todo o seu discurso é orgânico,robotizado: a avaliação começou a ser negociada no verão de 2006, foivalidada por um conselho científico, se não funciona na perfeição, aresponsabilidade é das escolas - "está nas suas mãos tornar as coisasmais simples" - e tem de continuar porque não há outro modelodisponível. Então está tudo bem, pergunta o jornalista. Que quase quesim e que está a ser melhorada todos os dias e que o pode continuar aser nos próximos, desde que se concretize.Há, nesta cultura administrativa de poder, uma cegueira que raia o autismoPara a ministra, todas as escolas estão a avaliar, não tem notícia deque alguma a tenha suspendido. Então e a manifestação, sempre são 120mil, não é?, insiste o jornalista. Pois que sim que são, mas que hánela uma chantagem sobre os professores que querem fazer o seutrabalho. Ouve-se e é dificil de acreditar. Se os que estão na rua sãoprofessores, onde é que estarão os outros? "Chantagem", quando doisterços de uma classe sai à rua? Porque não faz sentido, é precisoprocurá-lo.Diz-me a experiência que posso ter a melhor ideia do mundo, mas queela me é inútil se quem tem que a concretizar não concordaCom Maria de Lurdes Rodrigues é diferente. Ela tem um mundo único,exclusivo e intransmissível. Nele, o que leva os professores a sairemà rua é "o medo ante a mudança". Tenho inveja desse mundo, confesso.No meu, que é normal e feito de pessoas comuns, o medo costuma fecharas pessoas em casa. No mundo da ministra, a manifestação foi umacabala urdida pelos partidos da oposição. Renovo a minha inveja.Naquele em que vivo habituei-me, pelo contrário, a uma enormedesconfiança dos movimentos genuínos face aos partidos. Sei, porexperiência própria, que é preciso uma classe estar rigorosamente noslimites da exasperação, para pedir ajuda aos políticos que reconheçacomprometidos com a sua luta. Pois foi isso que aconteceu desta vez.Centenas, senão milhares de professores nos pediram - "Não nos deixemcair", "não nos abandonem", "ajudem-nos".Não, não foram os partidos que manipularam os sentimentos dosprofessores; foram estes que exigiram da política o compromisso quenão encontraram no seu ministério.Estive nas duas manifestaçõesPorque politicamente estou solidário com esta luta, mas também porquesou pai de dois filhos que estudam na escola pública. Quero que elesgostem das escolas que frequentam. Quero que aprendam, que estudem eque tenham aproveitamento. Sei que têm professores melhores e piores,como estes sabem que têm alunos mais interessantes e interessados eoutros nem tanto. É assim a vida, feita de encantos e desgostos. Gostodela porque é assim, imperfeita e por isso aperfeiçoável. Do que nãogosto é de uma escola que, frustrando os professores, não se podeencontrar com os alunos, que são a sua razão de ser. Uma escola deprofessores desesperados e angustiados é uma escola que morre dentrode muros. É por isso que a ministra até podia ter a melhor avaliaçãodeste mundo, mas não servir. A avaliação que urge não é a dosprofessores, mas a de um ministério e de uma ministra que têm sidoincapazes de perceber o mal que estão a fazer às próprias escolas. Nãopreciso de muita papelada nem de conselhos científicos para concluirque o problema mora em cima.

Miguel Portas

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